CAMPANHA DO PARAGUAY
(1867 e 1868)
MARECHAL VISCONDE DE MARACAJÚ
Imprenta Militar
Estado Maior do Exercito
1922
AO LEITOR
Durante toda a campanha do Paraguay tomei diariamente notas, que eram lançadas em meu Diário, á noite, excepto quando me recolhia tarde á barraca e nos dias de combate.
Não obstante o desejo e mesmo necessidade que tinha de organisar essas notas para publical-as, restabelecendo, como testemunha ocular, a verdade de diversos factos, que foram adulterados, não pude fazel-o até agora por falta de tempo; pois em seguida á campanha do Paraguay, estive á testa de varias commissões, que não me deixavam tempo.
Depois dos acontecimentos de 15 de Novembro de 1889, tendo eu sido reformado pelas razões que o Pais conhece, dei começo a este trabalho, que ora entrego ao publico.
Podia fazer uma narração da campanha nos annos de 1867 e 1868 á vista das referidas notas, porém preferi muitas vezes transcrevel-as de meu Diário e do das Commissões de engenheiros, que dirigi, bem como diversas ordens do dia do Exercito, por exprimirem melhor a impressão dos acontecimentos.
Nunca tive o habito de jactar-me dos serviços que prestei, sendo por isso uns ignorados e outros até oceultos por alguns que se tornaram meus inimigos pelo facto de terem sido protegidos por mim; e por isso tinha desejo c mesmo necessidade, como disse acima, de restabelecer a verdade de alguns factos, sendo um d'elles o que diz respeito á estrada militar do Grão-Chaco.
Como Chefe da commissão de engenheiros e Quartel Mestre General não podia oceupar-me dos detalhes do serviço, que determinava; porém dirigia-os c inspeccionava constantemente, e sempre á satisfação dos Generaes. sob cujas ordens servi durante os cinco annos da campanha.
Ficando bem elucidada n'esta memoria o que oecorreu sobre a direcção e construcção da estrada militar do (irão-Chaco c outros pontos da campanha do Paraguay, peza-me entretanto oceupar-me d' esses serviços, quando trato de num; porém é necessário restabelecer a verdade, e quando hoje nenhuma vantagem podem trazer-me os serviços que prestei na referida campanha.
Não admira, pois, que no antigo Senado se commettessem euganos a respeito da estrada militar do Grão-Chaco, como aconteceu tambem no importante resumo da Historia do Brasil, em nota pelo illustrado Dr. Mattoso Maia, que de certo corrigirá esse engano e o da tomada da trincheira de Saucc.
As plantas que acompanham este trabalho são as mesmas, com algumas correcções, do Atlas publicado pelo Sr. Emílio Carlos Jourdan. excepto as designações que á vontade foram feitas pelo mesmo senhor, por serem as que mandei organisar, como Chefe das Commissões de engenheiros, remettendo cópias d'ellas ao valente e illustrado General Argollo. depois Visconde de Itaparica, Commandante do 1" e 2" Corpo do Exercito, e ao
também illustrado General Commandante do Corpo de engenheiros, como tudo consta d'esta memoria e de minha Fé de officio.
Aproveito a occasião para juntar no fim dos annexos o Relatório, que apresentei em 15 de Fevereiro de 1875 ao Ministério de Estrangeiros sobre a demarcação de limites com a Republica do Paraguay, bem como a communicação que fie ao "Jornal do Commcrcio" sobre a antiga questão das Missões, publicada na sua gazetilha de 24 de Julho de 1891, por interessarem aos que se oceupam d'esses estudos.
Conclui este trabalho em fins de 1890, porém submettendo- o á apreciação de meu irmão o Desembargador Manuel do Nascimento da Fonseca Galvão, e acceifando suas judiciosas considerações, rcctifiqitei-o com alguma demora por terem sobrevindo acontecimentos graves em pessoas de minha família.
V. DE MARACAJIT.
Rio de Janeiro, Dezembro de 1892.
CAMPANHA PO PARAGUAY
1867 E 1868
PRIMEIRA PARTE
Marcha de flanco — Acampamento de Tuyu-cué — Passagem de Curupaity— Combate de cavallaria— Reconhecimento da Barranca do Tayi — Combates de S. Solano e do Potreiro Ovelha — Occupação da Barranca do Tayi.
SEGUNDA PARTE
Passagem de Humaytá— Ataque ao forte do Estabelecimento e abordagem aos couraçados — Ataque á trincheira de Sauce — Occupação do Polygono.
TERCEIRA PARTE
Sitio e occupação da fortaleza de Humaytá— Rendição de sua ex-gtiarnição — Marcha do exercito brasileiro e subida da esquadra.
QUARTA PARTE
Estrada militar do Grão-Chaco — Combates de dezembro de 1868 — Fuga do dictador Lopez — Rendição da guarnição de Angustura —
Conclusão.
Pelo Marechal ref.
Rufino Enéas Gustavo Galvão,
Visconde de Maracajú.
1893
GUERRA DE LA TRIPLE ALIANZA
LIBRO DIGITAL
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